Tragédia no RS: o drama dos renais crônicos

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Água purificada é fundamnetal para o tratamento da hemodiálise em pacientes renais crônicos (Foto: Divulgação Fundação Pró-Rim)

Pacientes enfrentam dificuldade de acesso às clínicas de hemodiálise, que precisam de água potável e outros insumos

Em meio à maior catástrofe socioambiental no Rio Grande do Sul, causada pelas inundações geradas pelo excesso de chuvas nos últimos 10 dias, a população gaúcha vive um drama: a falta de água potável. Este tem sido o principal produto pedido nas campanhas para doações que vêm mobilizando a sociedade brasileira desde a semana passada. No entanto, a falta de água potável também pode significar a vida para pacientes renais crônicos.

É que este é o principal insumo das clínicas de hemodiálise onde esses pacientes fazem tratamento três vezes por semana, mas está cada vez mais escassa. Além disso, esses pacientes enfrentam dificuldades para se deslocar até as clínicas para fazer o tratamento. Há cerca de 4 mil pacientes renais crônicos na região atingida e eles precisam realizar o tratamento que filtra o sangue e retira líquidos em excesso do organismo, no mínimo, três vezes por semana para sobreviverem, pois seus rins não funcionam mais.

“Hoje (terça-feira, dia 7/5) usamos água de carro pipa para fazer três turnos de diálise e temos água até amanhã (quarta, dia 8). Cerca de 95% da cidade estão sem água potável e paradoxalmente sendo invadida ainda por água do Guaíba, pois diversas bombas que jogavam água de volta ao rio-lago estão inoperantes por inundação, problemas elétricos”, diz o médico João Carlos Bienart, que atende em Porto Alegre.”

Falta de insumos e três turnos para atender pacientes

Desde o início das fortes chuvas, 46 das 54 clínicas de hemodiálise localizadas em 29 cidades afetadas pelas enchentes estão enfrentando sérias dificuldades operacionais. Por conta da inacessibilidade devido às intempéries, houve impacto direto no fornecimento dos insumos essenciais para os tratamentos de diálise.

Indústrias do setor, em articulação com a Defesa Civil, Bombeiros e Forças Armadas, e empresários da região, conseguiram entregar os insumos nas unidades que já estavam com estoques no fim, ao longo dos últimos dias, mais ainda há unidades com dificuldades para recebimento.

“Falta tudo aqui. Água, internet, telefone, combustível. Trabalhei para garantir o dia de hoje, mas não sei como será amanhã”, lamentou Jaberson Severo, médico na Vita Rim, de Porto Alegre.

O programa de hemodiálise do Centro de Referência em Nefrologia do Hospital São Francisco de Paula, em Pelotas (RS), que atende 145 pacientes, além de 8 pacientes em diálise peritoneal e 35 em pós-transplante, abriu um quarto turno para atender 25 pacientes de um serviço de diálise de mais de 300 km de distância.

“Estamos dialisando acima da nossa capacidade instalada e com a mesma mão de obra que voluntariamente estão fazendo mais horas de trabalho! Estamos finalizando o quarto turno às 2 horas da manhã com a mesma equipe que voluntariamente está trabalhando!”, relatou o médico Franklin Barcellos.

“Infelizmente chovendo bastante e as previsões são pessimistas! Precisamos de insumos”, apelou.

O vice-presidente da ABCDT, Leonardo Barberes, contou que, na madrugada de terça-feira (7), funcionários de uma das empresas fornecedoras conseguiram fazer toda a movimentação de carga, retirando insumos de um depósito da transportadora e levando para outro, para fazer a separação.

“Mas durante a madrugada, o nível do rio subiu e alagou parte do depósito. Eles não conseguiram concluir toda a triagem. Seguiram trabalhando com gerador, porque ficaram sem energia, mas não sabem quando efetivamente vão conseguir levar os insumos para a base aérea de Canoas para abastecer cinco unidades que aguardam pelos insumos”.

São Jeronimo e Pelotas, por exemplo, estão ilhadas. O caminho terrestre de Porto Alegre a Canoas também tem levado mais de 4 horas para se percorrer.

“Até aqui, por meio aéreo, os insumos estavam sendo levados para as cidades menores, mas a enchente de Porto Alegre traz um novo cenário de dificuldades. Falta energia e água em umas das indústrias do setor de diálise que fica em Porto Alegre. A todo momento, estão chegando relatos de novas dificuldades”, afirma.

Dificuldade de acesso e falta de materiais de higiene

Várias dificuldades também vêm sendo enfrentadas por vários pacientes que precisaram ser deslocados até suas clínicas por helicóptero. Muitos estão abrigados temporariamente em outras cidades para que recebam o tratamento. Muitas clínicas estão oferecendo alimentação e medicamentos aos pacientes que não podem voltar para casa.
De acordo com a médica Nara leal, na Clinefron, em Lajeado, uma clínica de hemodiálise que recebe pacientes de 25 cidades do Estado e atende a 156 pacientes, cerca de 20 de seus pacientes dependeram de helicóptero para chegar na clínica.

“As clínicas estão providenciando material de higiene e alimentação para eles. Cinco pacientes nossos que vinham de outras cidades conseguiram dialisar em outra cidade. Então, há clínicas recebendo pacientes extras de outras cidades e precisando de mais insumos. Nossa dificuldade é porque os insumos da diálise são fornecidos aos poucos, ninguém tem grande estoque”, diz.

Campanha de doação para clínicas de diálise

A Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT) está realizando uma campanha de solidariedade às clínicas de diálise. Doações podem ser enviadas ao pix: [email protected].

A entidade também está mobilizando esforços junto às autoridades governamentais e à Frente Parlamentar Mista dos Serviços de Saúde da Câmara Federal para que haja prioridade aos serviços de hemodiálise no Rio Grande do Sul.

Nesta terça, a ABCDT enviou um ofício ao Ministério da Saúde solicitando o adiantamento do pagamento mensal que é feito às clínicas de diálise e também uma fatura extra para cobrir os gastos excedentes que surgiram.

Hospital Moinhos de Vento (RS) faz campanha

Não são apenas as clinicas de hemodiálise. Vários hospitais do Rio Grande do Sul estão enfrentando sérias dificuldades no atendimento durante a tragédia das chuvas no estado.
Considerado uma referência em Porto Alegre, o Hospital Moinhos de Vento não foi atingido pelas cheias, mas enfrenta algumas restrições de atendimentos eletivos. Por meio do Instituto Moinhos Social, o hospital está reunindo doações, que serão repassadas às comunidades atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

A campanha do Moinhos envolve doação em dinheiro, que pode ser feita para a chave PIX [email protected]. Com o valor arrecadado, o IMS vai adquirir itens, de acordo com as principais necessidades apontadas, e destinar ao governo do Estado.

Além disso, o Hospital Moinhos de Vento está recebendo agasalhos, cobertores, capas de chuva e botas na sede do Instituto Moinhos Social (ao lado da Panvel, no térreo da Tiradentes, 333) e em caixas que estarão alocadas nas recepções dos blocos B e C. Mais informações no site ou pelo WhatsApp (51) 99529-3412.

FONTE: VIDA&AÇÃO