A terapia renal na rede pública capixaba foi tema de debate na reunião da Comissão de Saúde desta segunda-feira (26). De forma geral, apesar de não faltarem vagas para pacientes que precisam de hemodiálise no Estado, de acordo com equipe de profissionais responsável pela área, existe um gargalo na regionalização, ou seja, garantir o acesso mais próximo do domicílio. E a Região Sul do Estado tem sido a mais afetada nesse sentido.
O tratamento, conhecido como Terapia Renal Substitutiva (TRS), engloba três principais procedimentos: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante de rins e são destinados a pacientes renais graves. Atualmente, a organização das vagas para esses tratamentos funciona a partir do sistema de regulação de leitos que foi adaptado para a TRS. “Os nossos pacientes ficam em tratamento contínuo. É como se fosse uma internação, sem prazo de alta. Isso também é um desafio para a organização dessa dinâmica”, explicou a coordenadora da Central Estadual de Regulação da TRS, Gilséia Sossai Silva Forza.
O sistema de monitoramento e controle de vagas é feito em tempo real com dados auditáveis. O protocolo de regulação das vagas para pacientes renais foi formalizado em 2021. Em 2024, todas as vagas do SUS foram integralizadas ao sistema. “Todos os pacientes passam pelo sistema, pois hoje todas as vagas do SUS para a hemodiálise estão no monitoramento. Isso permite que a clínica se organize melhor para receber cada paciente. E não tem como furar a fila”, explicou Gilséia.
A maior demanda é da hemodiálise. Atualmente, 2.752 pessoas estão em tratamento de hemodiálise em um sistema que possui 3.213 vagas. Isso significa que existem vagas disponíveis no sistema da rede pública estadual. “Temos uma fila de espera de pacientes que buscam remanejar o tratamento para outro local. Esses pacientes não estão desassistidos. Mas preferem, claro, o tratamento mais próximo de suas casas. Manter o paciente mais próximo de seu domicílio é um grande desafio. A Região Sul é nossa maior demanda nesse sentido”. Atualmente, o Estado possui 24 centros de hemodiálise e dois centros de transplante renal.
A reunião foi presidida pelo deputado Dr. Bruno Resende (União), presidente da comissão, e contou com a presença do deputado Zé Preto (PP). “A regionalização na área da saúde é um assunto complexo e urgente. Quando nós olhamos os dados brutos estamos precisando de vagas no extremo do mapa. A Região Metropolitana, por exemplo, não tem problema de vaga. Precisamos ver esses dados com o olhar de gestão. Em tese, temos um problema de distribuição. Sabemos que não é uma coisa simples”, disse Dr. Bruno.
Hemodiálise pediátrica
Outro desafio é a hemodiálise pediátrica, que não existe no SUS no Espírito Santo. Atualmente, quatro crianças necessitam desse suporte. Referência no assunto no Estado, o médico nefrologista Lauro Monteiro Vasconcelos também participou da reunião. “Nós avançamos muito. Precisamos reconhecer isso. Mas temos muito o que fazer. A TRS infantil é um problema que nós vamos ter que enfrentar! Se hoje sairmos daqui com esse compromisso, eu vou estar feliz! E precisamos nos perguntar todos os dias: qual é a qualidade de tratamento que estamos oferecendo?”, refletiu.

Prevenção
A prevenção no atendimento primário, aquele feito no posto de saúde, é uma ferramenta importante para evitar a gravidade da doença renal.”Quando o paciente chega ao sistema do TRS já está na urgência da doença renal crônica e, muitos, nem sabiam. Precisamos desse trabalho de prevenção, ou seja, diagnosticar o paciente renal em potencial e fazer um trabalho de prevenção”, explicou a médica Alice Pignaton Naseri, referência técnica da área na Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).
“Precisamos ter um olhar diferenciado para a prevenção. Não que o paciente não vai evoluir para a doença crônica grave, mas quando fazemos um bom acompanhamento, esse paciente vai com mais possibilidades de tratamento. E também não entra pela emergência, que é muito mais cara para o sistema”, acrescentou o médico Alexandre Morais, que representa a Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT).
Segundo a entidade, existe uma defasagem no repasse da rede pública para as clínicas que fazem sessão de hemodiálise. O custo de uma sessão de hemodiálise na região Sudeste, sem impostos, é de R$ 309,78. A tabela SUS reembolsa R$ 240,97. “Nos cenários que temos, realmente não é viável para uma clínica oferecer esse tratamento. Nós precisamos debater esse financiamento”, disse Morais.
“A tabela SUS está defasada em todas as áreas e há anos. Eu vejo que esse problema só vamos resolver com organização e prioridade”, comentou Dr. Bruno.
Ao final, a Comissão de Saúde decidiu elaborar um documento com propostas para buscar diálogo com o governador do Estado.
Fonte: Folha do ES