Sem vagas em clínicas, pacientes renais ficam internados em hospitais à espera de hemodiálise

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Tratamento deveria ser ambulatorial, sem necessidade de internação. Em Salvador, no entanto, ao menos 175 pessoas estão em hospitais.
Sem vagas em clínicas, pacientes com problemas renais estão sendo internados em hospitais de Salvador, muitos deles ocupando vagas em unidades de terapia intensiva (UTIs) que poderiam ser destinadas a pessoas em estado grave, a espera de um tratamento de hemodiálise, método de filtração do sangue por meio de um rim artificial.
A Bahia tem, atualmente, 11 mil pacientes que sofrem com problemas renais. Mais da metade, cerca de seis mil, depende de hemodiálise para sobreviver. É um tratamento que deveria ser ambulatorial, sem necessidade de internação, e realizado em clínicas médicas, mas faltam vagas nessas unidades de saúde.
Somente na capital baiana, ao menos 175 pacientes estão nesta situação: internados desnecessariamente e tendo condições de ter alta médica, mas sem poder deixar o hospital por causa da falta de vaga para fazer hemodiálise.
Das 11 clínicas que faziam o tratamento na capital, duas pediram o descredenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro de 2016. Isso deixou 270 pacientes sem hemodiálise. O caso foi parar na Justiça, a pedido do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público Estadual (MP-BA), desde fevereiro. Até agora, no entanto, não há uma decisão.
“Os órgãos constataram que as vagas [nas clínicas] não são suficientes. Como o hospital não consegue vaga nas outras clínicas de hemodiálise existentes no estado, então não tem para onde mandar [os pacientes]. Tem paciente que chega a ficar três meses morando no hospital”, destaca a presidente da Associação dos Transplantados da Bahia.
Além de ocupar vagas em UTI, sem necessidade, ficar no hospital pode trazer outros problemas, segundo especialistas. “Tem situações, inclusive, que os hospitais não têm uma unidade de hemodiálise. Então, esses pacientes acabam ocupando leito de UTI. Quanto maior o tempo de internamento, maior a incidência de depressão”, destaca o presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia da Bahia, Marcos Silveira.
Um irmão da dona de casa Simone Santos já está internado há seis meses em Salvador com problema nos rins. Há 15 dias, ele passou por uma cirurgia que antecede o processo de hemodiálise, mas até agora não teve confirmação de vaga para realização do procedimento. “Vai numa clínica e não tem vaga. Tem 100 pessoas esperando na frente. São inúmeras respostas negativas. A confirmação ainda não temos, mas estamos esperançosos”, diz Simone.
Situação parecida vive o pai da técnica em segurança do trabalho Viviane Silva. Ele está internado há quatro meses. Desde junho, quando o homem descobriu um problema no rim e foi internado, não saiu mais do hospital. Até poderia receber alta médica e voltar para casa, caso conseguisse uma vaga para fazer hemodiálise em uma clínica, mas não encontrou. “Ele já poderia estar em casa há muito tempo e ceder essa vaga dele para uma pessoa que precise mais”, destacou Viviane.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) diz que 36 clínicas fazem hemodiálise e que está tentando resolver o problema. Admite, no entanto, que quase 400 pacientes estão sem ser atendidos. “O acesso ao tratamento está sendo garantido pelo governo do estado nas unidades de emergência, a um custo alto. E estamos em busca de captação de novos prestadores e abertura e ampliação de novos serviços”, afirma a dirigente de atenção especializada da Sesab, Alcina Romero.
A secretaria de Saúde de Salvador disse que, atualmente, cerca de 1300 pacientes estão em tratamento em oito unidades na capital e que essa é a capacidade máxima das vagas. Disse, ainda, que a ampliação do serviço está em negociação com o estado e o Ministério da Saúde.
Fonte: G1 – https://g1.globo.com/bahia/noticia/sem-vagas-em-clinicas-pacientes-renais-ficam-internados-em-hospitais-a-espera-de-hemodialise.ghtml – 20/10/2017