Falta de reajuste em valores do SUS dificulta atendimentos na Renal Vida

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Associação de Blumenau chega a ter déficit de R$ 600 mil por mês devido à falta de reajuste do SUS.
Conectado à máquina que o mantém vivo fazendo a filtragem do sangue, trabalho que os rins já não conseguem fazer sozinhos, o empresário Vaguino Santos Fraga, 54 anos, há sete trocou o calor de Cuiabá, no Mato Grosso, pelo de Blumenau para ser atendido pela Associação Renal Vida, que frequenta há dois anos:
— Para a pessoa vir três vezes por semana e se sentir bem, tem que ter um bom atendimento. E aqui é referência, então foi isso que fez a diferença quando eu estava procurando um lugar para me tratar. Foi o único lugar que realmente achei que era possível fazer o tratamento sem medo. É uma segurança até se for preciso chegar a um transplante.
Paciente da entidade há mais tempo, o aposentado Idalecio Gonçalves, 64, frequenta a Renal Vida há oito anos e diz que as horas que passa na clínica são parte da rotina. Assim como Fraga, ele também reconhece a importância do trabalho prestado pela associação e afirma que “não dá para reclamar”, mas sabe que a busca por melhorias não para.
— É muito importante o que eles fazem aqui, se não fosse eu não estaria aqui para falar isso. Mas pode melhorar até com a nova clínica, porque aqui é um pouco mais difícil: é no oitavo andar, não tem onde estacionar. Se fosse um lugar com estacionamento eu até podia vir sozinho, não ia depender de outras pessoas — afirma, fazendo referência ao projeto da nova sede da Associação Renal Vida, que será construída no bairro Bom Retiro.
Fraga e Gonçalves são dois dos 600 pacientes de hemodiálise atendidos pela entidade em 45 municípios do Vale do Itajaí que fazem o tratamento na unidade de Blumenau. Além dos atendimentos, a associação já participou de 1.201 transplantes e conta com um quadro de 21 médicos e 250 funcionários. Hoje, porém, a Renal Vida atravessa um período turbulento e com possibilidade de ficar sem vagas para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), que correspondem a 85% dos atendimentos.
Há algum tempo a entidade administra a defasagem nos valores pagos pelo governo federal, que não sofrem reajuste há quatro anos. De acordo com o superintendente Tarcísio Steffen, cada sessão de hemodiálise custa R$ 257,00, mas atualmente o SUS paga R$ 179,00, o que causa um déficit de R$ 1 mil por paciente a cada mês. Isso representa R$ 600 mil de déficit mensal nas contas da entidade. Uma portaria publicada no Diário Oficial da União no início de janeiro aumentou o repasse para R$ 194,20 por atendimento, o que ajuda, mas não resolve a situação da entidade.
— Na mesma portaria eles determinam que não deve mais ter reuso de material que até então era possível utilizar 20 vezes no mesmo paciente com segurança. Ou seja, o custo vai aumentar. Eles dão com uma mão, mas tiram com outra — afirma Steffen.
Vagas em risco
Em 2016 a entidade chegou a ficar sem vagas para novos pacientes. Hoje a Renal Vida tem todas as vagas ocupadas e, segundo Steffen, quando aparece um novo paciente eles “administram” a situação: encaminham para atendimento no hospital — onde a associação também gerencia o trabalho, com um custo mais alto — ou só é possível abrir uma vaga quando algum paciente deixa de precisar do tratamento, quando faz um transplante, por exemplo.
Para manter a associação em atividade, os doadores são fundamentais. Eles são, atualmente, cerca de 17 mil, que ajudam a entidade a levantar aproximadamente R$ 100 mil por mês. De acordo com o superintendente, este valor tem ajudado a custear o trabalho desde que a defasagem do pagamento do SUS começou a afetar com mais gravidade a saúde financeira da instituição:
— Como não temos fins lucrativos e a maioria dos nossos pacientes é da parcela mais carente da população, esse dinheiro é fundamental para nós. Foi com ele que conseguimos comprar o terreno onde vai ser construída a sede e agora esse valor também deveria estar sendo destinado para a construção, mas precisamos manter o atendimento, então hoje ele é aplicado nesse custeio. Mas logo esses doadores também vão nos cobrar.
Além da hemodiálise e dos transplantes, a Renal Vida já atendeu mais de 2 mil pessoas em consultas ambulatoriais e de especialistas — pelas quais o SUS paga R$ 10,00, segundo Steffen — e também oferece suporte para as famílias, atendimento multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais, além dos médicos e enfermeiras.
Atualmente não há demanda de pacientes e a ocupação está controlada, mas os problemas renais podem ser descobertos de um dia para o outro e, assim, a procura pelo atendimento pode aumentar de repente. Além da luta pela correção dos valores pagos pelos serviços prestados, a entidade segue contando com o apoio da comunidade.
PARA DOAR
Uma das maneiras de fazer uma doação para a Associação Renal Vida é via débito em conta para correntistas da Viacredi e da Caixa Econômica Federal ou através da conta de energia elétrica. Para mais informações sobre como doar, é possível entrar em contato com a entidade pelo telefone 0800 648 4354.
Fonte: Jornal de Santa Catarina – http://jornaldesantacatarina.clicrbs.com.br – 24/01/2017