Centro Estadual de Transplante paralisa cirurgias e transfere pacientes

0
51

O Centro Estadual de Transplantes (CET), inaugurado em 2013 no Hospital São Francisco de Assis (HSFA), na Tijuca, sofre os reflexos da crise financeira por que passa o governo estadual. A unidade, que, até meados de 2015 era responsável por 60% dos procedimentos de rim no estado, vem transferindo seus pacientes para outras unidades no momento em que são chamados para a cirurgia. Na última terça-feira, dois doentes renais crônicos acompanhados pela equipe do hospital foram orientados a ir para o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), onde puderam receber os órgãos doados. O motivo: faltava material para as cirurgias.

— No último dia 22, o telefone tocou quase à meia-noite. Era uma moça dizendo que havia um rim para mim e que eu deveria ir para o São Francisco. Mas quando cheguei, às 4h20m da última terça-feira, o médico disse que eu tinha que ir para o Hospital de Bonsucesso. Pensei: tem alguma coisa errada — disse Ana Beatriz dos Santos Ribeiro, de 48 anos, que mora em Campos.
Ana Beatriz contou que foi tranquilizada pelo médico. Ao seu lado, Cláudio Luiz Ferreira, de 48 anos, recebia a mesma notícia. Foi ele quem deu carona a Ana Beatriz até o HFB. Lá, o transplante dele aconteceu na noite de terça-feira. O dela, na tarde de quarta-feira.
— Não podia nem pensar em não receber esse rim por causa de crise financeira do estado. É um crime desperdiçar um órgão. Há muita gente esperando na fila por uma chance de viver. E só quem vive preso a uma máquina de hemodiálise sabe o sofrimento que passamos. O que mais quero agora é encontrar minhas irmãs. Uma mora em Portugal e a outra, nos Estados Unidos. Eu nunca pude visitá-las. Há 14 anos, vivo preso à máquina de hemodiálise, três vezes por semana. É um sonho realizado depois de tantos anos de sofrimento — disse o ex-paraquedista Cláudio Luiz Ferreira, de 48 anos, que se recupera bem, num leito na enfermaria do serviço de nefrologia do HFB.
O HSFA sofre com atrasos nos repasses. Em janeiro, o governo estadual negociou com a Associação Lar de São Francisco uma redução na verba mensal de R$ 9,5 milhões para R$ 6,5 milhões. Ainda assim, a OS teria recebido, entre janeiro e agosto, R$ 36,4 milhões dos R$ 52 milhões acertados. Em setembro no ano passado, a unidade ameaçou fechar as portas e, em janeiro deste ano, chegou a suspender os transplantes.
Segundo o chefe da nefrologia e do serviço de transplante renal do HFB, Luiz Fernando Christiani, são cerca de mil pacientes aguardando por um rim no estado. Só na unidade, são 250 pacientes com os exames pré-operatórios prontos e outros cem em preparação:
— Este ano, já fizemos 52 transplantes de rim. Estamos um pouco abaixo do que realizados no ano passado, quando transplantamos cerca de 80 rins, e longe de atingirmos nossa capacidade plena. Podemos fazer dois transplantes por dia, mas precisamos que as famílias autorizem as doações.
Fonte: Extra http://extra.globo.com/ – 30/08/2016